No dia 12 de abril de 1975 foi fundada a Associação de Cultura Musical de Lousada (ACML), cujos estatutos foram reconhecidos oficialmente nessa data e cujo ato decorrido no Cartório Notarial de Lousada documentam as fotografias (ver galeria).
Esta proeminente coletividade lousadense nasceu na sequência de uma grave crise na Banda de Música, a qual corria o risco de desaparecer. Foi assim que a criação de uma associação foi vista como um meio para a salvação da banda pois assim poderia concorrer aos subsídios oficiais (nomeadamente da Secretaria de Estado da Cultura e do FAOJ) e à quotização de associados.
Deu-se assim início a uma nova era na cultura de Lousada, sob a batuta de Paulo Afonso da Cunha, que convidou Narciso Ribeiro da Mota para ser o primeiro presidente da associação. Um novo dinamismo foi empreedido e depressa começaram a surgir sinais de mudança: um autocarro para as deslocações da Banda e transporte dos alunos das escolas de música que entretanto abriram nesta coletividade e que esta também inaugurou em alguns pontos do concelho.
Para este arranque portentoso da ACML muito contribuiu o comércio e indústria de Lousada, com especial ênfase para a Fabinter, de Hans Isler, cuja generosidade para com a banda e pessoas que lhe estavam associadas permitiu avultadas contribuições, desde apoios financeiros até aos fardamentos e instrumentos musicais, o mesmo sucedendo com José Dias, da extinta Estofex. Esta empresa e a Fabinter eram os dois baluartes da economia lousadense da época.
Nos finais da década de 1970 a Associação de Cultura Musical de Lousada não se dedicou exclusivamente à música. O teatro e o desporto foram duas áreas onde aconteceram incursões interessantes e pioneiras até. Nos desportos motorizados ficaram na retina e na memória grandes corridas de motocrosse que decorreram na antiga Quinta das Pocinhas, germinando aqui as sementes que iriam originar o Clube Automóvel de Lousada.
Em 1980 foi gravada e lançada pela Edidisco a primeira cassete da Banda, que incluiu quatro temas: “Roteiro” (com arranjo de Amílcar Martins), “Lousadense” (de Rodrigo Fernandes), “La Gaza Ladra” (de Rossini) e “Hélico em Paris” (de Ilídio Costa).
Seguiram-se mais duas gravações em cassete e um Compact Disk que foi lançado em 2004 na despedida do maestro Alberto dos Santos Vieira. Este CD contém seis temas, entre os quais a marcha “Luís e Fernando”, da autoria deste maestro.
Para além de várias vertentes e formas de cultura, como o teatro, os saraus poéticos, as soirées dançantes, o ensino foi desde sempre a pedra basilar da cultura e da educação na ACML. Desde a fundação da banda que as aulas de música foram algo imperioso. Essas aulas eram dadas ora por pessoas abalizadas por cursos oficiais e também músicos que ensinavam apenas com base na sua experiência pessoal. Por isso, não estranhou que em janeiro de 1982 as “Escolas de Música” abrissem com 187 alunos inscritos.
Na década de 1990, o decano da colectividade, Paulo Afonso da Cunha, empreendeu o objetivo de dotar a ACML de uma Academia de Música. Tal facto veio a consumar-se, tendo então esse serviço sido liderado pelo maestro Alberto dos Santos Vieira, que assim se tornou no primeiro diretor pedagógico da ACML.
O empenho das sucessivas direções, assim como da autarquia lousadense, permitiram, por um lado, investimento em termos humanos e materiais na Banda Musical e nas várias infra-estruturas e serviços da coletividade, e, por outro lado, possibilitaram feitos fantásticos que orgulham esta terra em geral e ACML em particular.
Para além dos supracitados, é da mais elementar elegância e mérito referir neste contexto os nomes de dirigentes e beneméritos como Joaquim Gonçalves Solha, Dr. Jorge Magalhães, Narciso Ribeiro da Mota, Engº Jorge Bessa, Agostinho Vieira, a provedora Lúcia Alves Lousada, Engº José Carlos Machado, António Victor, Clemente Bessa, José da Costa Sampaio, entre outros.
COM A CASA ÀS COSTAS…
Ao longo da sua existência, a Banda Musical de Lousada saltitou de casa em casa até conseguir a sua residência definitiva, na Quinta das Pocinhas, que se prefigurou durante anos como um sonho…
Sem sede própria e nem sempre com instalações apropriadas, o agrupamento deambulou um pouco por todos os cantos da vila e fora dela também. Em alguns casos, o estabelecimento da banda em certos locais aconteceu graças à boa vontade de proprietários e noutros foi causado pela capacidade conjuntural da bolsa da banda.
Rezam as crónicas e ditam as memórias dos mais velhos que a banda teve como um dos primeiros locais de encontro e de ensaio a residência paroquial de Nespereira. Isto aconteceu aquando da predominância da nespereirense família Chamusca na Banda Louzadense. Entre eles estavam António Nunes Chamusca (pai) e os filhos Luís Nunes Chamusca e Serafim Nunes Chamusca.
Estes foram durante anos consecutivos os dinamizadores principais da orquestra. Dizem os anciãos da música que estes exímios executantes eram também abalizados ensinadores das artes filarmónicas e que criaram à sua volta uma legião de aprendizes que acabaram por se tornar músicos da Banda de Lousada.
Com a crise económica e a fome que se instalou por altura da Primeira Guerra Mundial, a Banda esmoreceu e quase não atuava.
Na década de 1920 é retomada a fervorosa devoção à causa musical. As hostes reorganizam-se, desta vez tendo como sede a casa da senhora Laura “Estanqueiro”, cuja alcunha derivava do facto de ser dona de uma casa comercial com depósito de tabacos e que se situava na rua Visconde de Alentém (mais ou menos em frente ao Colégio Eça de Queirós).
…ATÉ REALIZAR O SONHO…
Devido à falta de condições naquel local, a banda mudou-se de armas e bagagens, que é como quem diz, de instrumentos e fardamentos, para uma das salas paroquiais da Capela do Senhor dos Aflitos. Parece que aquela estadia não durou muito. Lê-se no jornal TVS de 23 de maio de 1996 que “desvarios profanos de alguns músicos não se coadunavam com as praxes devidas a lugares bentos”. De facto, o estridente barulho dos ensaios eram demasiado profanos para um local recatado como aquele…
A morada seguinte foi a da casa de Carolina “Leiteira”, que terá funcionado como escola feminina em Cristelos. Cansados de tantas mudanças, foi nesta época de meados do século XX que se começou a congeminar planos para construção de uma sede própria. Um sonho que cerca de 40 depois se tornaria realidade.
Em Cristelos também a banda não se instalou em definitivo. Os ensaios passaram a ter lugar na casa de Adão do Tojeiro, até que, em meados da década de 1970, altura em que se fundou a Associação de Cultura Musical de Lousada, em 12 de abril de 1975, a banda teve uma sede somente sua. Já não era a casa de fulano nem de sicrano, mas sim a sede da banda. A Câmara Municipal de Lousada proporcionou ao agrupamento umas instalações situadas nas traseiras do antigo tribunal, na rua S. Sebastião.
Este espaço foi-se tornando escasso para a expansão da banda, mas enquanto durou foi local de preparativos para factos assinaláveis. Para começar, em 1979, depois de brilhante atuação no Festival de Lisboa, a banda foi convidada pela Secretaria de Estado da Cultura para representar Portugal (com o atleta olímpico Carlos Lopes) nas comemorações do dia de Portugal em Paris.
…DA SEDE NAS POCINHAS!
Também naquela sede (que era também onde chegaram a ser vestidos os figurantes da procissão nas Festas Grandes) a banda ensaiou para o triunfo magnânimo em terras germânicas.
Foi em 1985 que, regressada da épica atuação em Tuttlingen, onde se sagrou como que campeã europeia na sua virtuosa arte, foi-lhe destinada uma casa com as melhores condições até então.
A sua nova morada foi a vetusta casa da Quinta do Loreto, na Praça da República. Ao mesmo tempo foi outorgado entre a Associação Musical e Câmara Municipal a cedência de terreno na Quinta das Pocinhas, começando desde logo a ganhar forma o sonho de possuir uma casa própria…
Depois de andanças e mudanças, vivendo muitas vezes como autênticos saltimbancos, a Banda Musical e a respetiva Associação acabou por ter a sua sede, em 1998, na Quinta das Pocinhas.
O novo e definitivo “quartel-general” da filarmónica lousadense é vizinho do Auditório Municipal de Lousada, que abriu oficialmente ao público no dia 15 de julho desse ano após projeto conjunto com a sede da Associação de Cultura Musical de Lousada.
Assim se concretizou um sonho acalentado há muitos anos antes. A persistência de muitos, a benemerência de outros e o bairrismo de todos fez acalentar de ano para ano esperanças na concretização de tão almejado desiderato.